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EAA | Coletânea Soluções Extrajudiciais de Conflitos - Negociação - Tema 04/13

EAA | Coletânea Soluções Extrajudiciais de Conflitos - Negociação - Tema 04/13

03 . 10 . 2018 Publicado em Artigos

Uma das formas mais conhecidas de solução extrajudicial de conflitos é a negociação. Praticamos esse tipo não apenas em problemas complexos, mas em vários âmbitos de nossas vidas, inclusive no meio familiar.

Se eu e meus irmãos queremos todos jogar o mesmo vídeo game, podemos discutir uns com os outros ou entrar em um acordo no qual a cada meia hora, por exemplo, nos revezamos. Isso nada mais é que uma negociação, em sua forma mais simples. Simples porque nesse caso conhecer quais são as aspirações de todos os envolvidos é algo intuitivo: cada um quer jogar um pouco, de forma justa.

Passando para relações mais complexas, uma boa negociação requer a análise de uma série de fatores, de forma detalhada. Para negociar não basta conhecer as minhas aspirações. É preciso conhecer ainda mais afundo quais são os desejos das outras partes envolvidas, para que seja possível colocar em uma balança tudo que está em jogo e então definir estratégias e resultados possíveis e desejados.

Muitas pessoas entendem que negociações muitas vezes não são justas e que, por isso, seria preferível em diversos casos buscar o Poder Judiciário. Mas a verdade é que a negociação tem um outro viés que acaba sendo deixado de lado.

O que diferencia a negociação da mediação, conciliação e da arbitragem é que não há um terceiro tentando apaziguar as partes ou com poder de interferir na solução final. Muitas vezes advogados auxiliam os envolvidos, mas a decisão final na negociação sempre será dos interessados, da forma como melhor lhes convir.

Nesse contexto o que muitas vezes não se percebe é que a negociação é a forma de solução de conflitos que mais leva em consideração a vontade das partes. É, por definição uma “conversa que ocorre entre duas ou mais pessoas, com o fim de se chegar a um acordo em um assunto qualquer”[1].

Assim, mesmo que se diga depois que o resultado da negociação parece não ter sido justo, a verdade é que, em regra, no aspecto psicológico, é o que deixou os envolvidos o mais satisfeitos possível. Afinal, trocando-se a negociação por uma decisão judicial, estar-se-á abrindo mão do poder de decidir e, por consequência, o resultado pode ser completamente diferente do esperado.

E honestamente, o ser humano não gosta de ter sua vida e nem seus negócios decididos por outras pessoas. Submete-se a isso em alguns casos, mas na maioria das vezes irá preferir por ser capaz de decidir por si mesmo.

Além desse viés psicológico, a verdade é que uma tentativa de solução de conflito via negociação não precisa se limitar, como muitos acreditam, em uma única reunião, em que se tudo der certo, ótimo, ou se não se chegar a um acordo parte-se para o Judiciário no dia seguinte.

Uma boa negociação pode levar semanas, meses e até anos. Isso permite que os envolvidos tenham tempo de analisar todas as suas opções com calma e realmente definir suas prioridades. Se hoje nos reunimos e de 10 itens em discussão solucionamos 8, vale a pena jogar tudo fora por conta dos 2 que sobraram? Não podemos encerrar esse encontro, pensar sobre o que foi discutido e reavaliar esses temas em algum tempo? Realmente compensa uma ação que vai levar ao menos 3 anos por conta desses 2 itens?

Se bem encaminhada, uma negociação leva tudo isso em consideração e pode propiciar às partes um resultado por vezes melhor do que o esperado no início, uma vez que permite que os envolvidos realmente conheçam seus interesses e do que estão dispostos a abrir mão. E para que esse bom desempenho exista é que é interessante a participação de profissionais da área do direito (advogados), na qualidade de consultores das partes, pois estes possuem uma visão mais negocial e menos emocionalmente contaminada do conflito existente e podem ser de grande valia no momento da tomada de decisões.

A negociação é algo instintivo, que usamos desde crianças com pais, outros familiares e amigos. É um método de solução de conflitos eficaz e que, bem usado, permite às partes atingir seus objetivos com mais eficácia e tranquilidade. É hoje um método extremamente divulgado no cenário nacional e de uso crescente, que sempre deve ser considerado como uma possibilidade, independente do tamanho do problema.